Balthus é o nome como é mais conhecido o Conde Balthazar Klossowski de Rola. Estava pertíssimo de completar 93 anos quando morreu na Suíça, em sua casa no povoado de Rossinière. Balthus nasceu em Paris, filho de família abastada e aristocrática, no ano de 1908.
Era a história viva do que habitualmente chamamos de “belle époque” francesa. Foi uma vida inteiramente submersa no mundo da arte, até mesmo pela convivência com outras pessoas. Pablo Picasso foi um dos seus amigos mais chegados. Conviveu também com Henry Matisse e Juan Miró. Na verdade, viveu cercado de artistas e intelectuais desde a infância.
Apesar de nascido em Paris, era de origem polonesa, filho de um historiador e uma aquarelista. O pendor pela arte vem do berço.
Recebeu educação esmerada mas foi um autodidata como artista. Aprendeu indo aos museus e igrejas e fazendo cópias, antes de assumir um estilo próprio. Casou com uma japonesa de nome Setsuko Ideta, que o acompanhou até a morte e com isso foi misturando em sua biografia mais nomes que para nós, brasileiros, parecem complicados. No início da adolescência, teve um gato chamado Mitsou, que desapareceu misteriosamente. Sobre esse tema fez 40 desenhos que foram publicados. Eram desenhos inocentes, de uma quase criança, mas já apresentavam a tristeza e a solidão que caracteriza toda a obra do artista.
Depois migrou para a pintura de ninfetas, sempre buscando uma sensualidade bem explícita, um erotismo declarado mas sempre mesclado com um ambiente de solidão e tristeza. As meninas, no frescor da juventude e da sensualidade recém desperta, contrastam visivelmente com ambientes lúgubres, de mobílias antigas, cortinas pesadas e cores fechadas. A presença de gatos é também uma constante, significando talvez um lado inocente que o Conde Balthazar Klossowski de Rola sempre fez contracenar com o pensamento erótico, até para dar-lhe mais ênfase.
Para fortalecer mais ainda o erotismo, o artista freqüentemente colocava um único ponto de luz na cena, fazendo incidir essa luz exatamente nas partes mais sensuais da criança/menina/mulher, como coxas e seios. A intenção é simplesmente declarada e mostra um certo espírito pedófilo que incomoda.
O artista tinha também uma certa fixação por espelhos e sobre toda a fantasia do que eles representam, como passagem para um outro mundo. Os espelhos serviam para mostrar uma mirada sobre si mesmo que ultrapassava as dimensões conhecidas e levavam a um ambiente inexistente alem do campo da imaginação.
O Conde Balthazar Klossowski de Rola, ou simplesmente Balthus, não foi um artista da perfeição. Suas pinturas pecam nas proporções e contornos, escorregam na escolha de cores apropriadas e enganam-se nas perspectivas com relativa freqüência mas conseguem, apesar disso, um efeito emocional poderoso. O despertar da sexualidade é retratado com uma mistura de inocência e provocação consciente. Os gestos das meninas são propositais, a incidência da luz na abertura das pernas é uma atitude estudada e proposital. O resultado é forte.
Balthus não foi um pintor muito fértil. Ao longo da vida de quase 93 anos – morreu 10 dias antes de completá-los – deixou 300 quadros concluídos. Se considerarmos uma vida útil dos 15 aos 90 anos, teremos uma média de 4 quadros por ano, o que não é muito.
Por Ronaldo Carneiro Leão
e Rê Rodrigues
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