sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Galerias Nacionais Investem em Artistas Estrangeiros/Luciano Cortopassi


RIO - Na primeira vez, o galerista Márcio Botner viu o trabalho do jovem português Carlos Bunga na Zona Maco, feira de arte no México. Era 2009, e ele então buscou o contato da “galeria-mãe” do artista, a espanhola Elba Benitez. Na segunda vez, recebeu o catálogo de uma exposição do português no Hammer Museum, em Los Angeles, e então decidiu: queria representá-lo no Brasil. Neste ano, Bunga entrou para o elenco da galeria A Gentil Carioca.
O movimento em direção ao exterior ganha corpo nas galerias brasileiras. Segundo a Associação Brasileira de Arte Contemporânea (Abact), de 27 galerias, apenas oito declaram não ter nomes de fora do país em seus elencos. No Rio, além da Gentil, as marchands Anita Schwartz e Laura Marsiaj acabam de fechar contratos, respectivamente, com os fotógrafos Thomas Florschuetz, alemão, e Oleg Dou, russo.
Em São Paulo, a Vermelho engrossou seu time internacional neste ano com o colombiano Iván Argote e o argentino Nicolás Bacal (agora tem quatro estrangeiros). Na Luisa Strina, entraram para o elenco de 22 artistas de fora do Brasil o dinamarquês Olafur Eliasson e o colombiano Bernardo Ortiz. Na Fortes Vilaça, de 36 artistas, 14 são estrangeiros.
— No contexto da internacionalização do mercado de arte, é natural que as fronteiras fiquem diluídas. — avalia Mônica Novaes Esmanhotto, gerente do Projeto de Promoção Internacional da Arte Contemporânea da Apex em parceria com a Abact. — O artista também incorpora cada vez mais à sua rotina de pesquisa a ideia de residência artística no exterior. Assim, a arte já nasce globalizada. Há mais mobilidade entre os artistas e as galerias.
A presença em feiras internacionais facilita o encontro com nomes estrangeiros. A Gentil, por exemplo, participou de cinco neste ano. Para Márcio Botner, porém, a busca por artistas de fora não é apenas uma resposta ao mercado.
— Por estarmos em vários países, lidando não só com galerias, mas com museus, começamos a perceber que a pluralidade é fundamental. É, sim, uma questão de mercado, mas é também parte do conceito da galeria — diz ele, lembrando que A Gentil Carioca, desde 2006, organiza mostras com jovens artistas estrangeiros, para apresentá-los aqui e, claro, mostrar-lhes também o bom mercado brasileiro.
No acordo que fez com a marchande espanhola Elba Benitez, A Gentil deve repassar 10% do valor de vendas do português Carlos Bunga para a “galeria-mãe” do artista.
— As galerias deixam de ganhar 100%, porém entende-se que o trabalho que uma faz é complementar ao da outra no sentido de estender a difusão do artista. Não é algo que dê lucro a curto prazo — afirma Mônica Esmanhotto.
Para a galerista  Eliana Filkenstein, da Vermelho, o trabalho de buscar artistas estrangeiros é “quase orgânico”, já que a galeria se aproxima de artistas com os quais tem identificação de linguagem. Por outro lado, ela diz que os artistas de fora cada vez mais buscam um lugar no país.
— Eles estão de olho no Brasil. Afinal, tem um circuito forte surgindo aqui — diz Eliana. — O que ocorre também é que o artista vem para cá, fica 15 dias, um mês, conhece outros artistas, reconhece um movimento e quer fazer parte disso. Para nós, galeristas, é ótimo. Ufanismo não faz parte da nossa forma de trabalhar — completa a marchand

‘Fronteira é algo do passado’

A gerente da Abact comenta que, atualmente, as galerias “já nascem internacionais”, com os olhos nas feiras e negócios do mercado estrangeiro. Mônica lembra dois exemplos fortes da internacionalização dos elencos em duas galerias de São Paulo: a Mendes Wood, inaugurada em 2010, cujo time, segundo ela, chega a ser 50% formado por nomes estrangeiros, e a Baró, que tem, de acordo com ela, dois terços de artistas de fora.

Créditos: O Globo, Globo.com

Obra do artista Portugês Carlos Bunga



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