Frans Janszoon Post (Haarlem,
Holanda 1612 - idem 1680). Pintor, desenhista e gravador. Inicia-se na pintura
em Haarlem, na Holanda, onde possivelmente estuda com o irmão, o arquiteto
Pieter Jansz Post (1608 - 1669). Freqüenta os ateliês de Pieter Molijn (1595 -
1661), de Salomon van Ruysdael (ca.1602 - 1670) e de Salomon de Bray (1597 -
1664). Indicado pelo irmão ao conde Maurício de Nassau, governador-geral do
Brasil Holandês, integra a comitiva que vem ao país em 1637. Entre seus
companheiros destacam-se os artistas Albert Eckhout (ca.1610 - ca.1666) e Georg
Marcgraf (1610 - 1644). Paisagista, Frans Post fica encarregado de documentar a
topografia, a arquitetura militar e civil, cenas de batalhas navais e
terrestres. As telas a óleo pintadas no Brasil não fazem concessão ao exotismo,
sua paisagem é serena e subordinada à realidade. Em 1644, volta à Holanda e
continua a pintar temas brasileiros, realizando uma centena de quadros a óleo
baseados em seus esboços e desenhos, aos quais passa a acrescentar elementos
exóticos da fauna e flora tropical. Em 1646, ingressa na Corporação dos
Pintores de São Lucas (Lukasgilde), obrigação de todo o pintor que não
estivesse a serviço da corte, da qual dez anos mais tarde torna-se diretor e,
posteriormente, tesoureiro. Com uma seleção dos inúmeros desenhos realizados
sobre o Brasil, ilustra o livro Rerum per Octennium in Brasília, de Gaspar
Barléu (1584 - 1648), que conta os feitos de Mauricio de Nassau durante os oito
anos de governo no Brasil, publicado em 1647.
Comentário Crítico:
Pouco se conhece da obra do
paisagista holandês Frans Post antes de sua chegada a Pernambuco, em 1637, como
membro da comitiva de artistas e cientistas trazida pelo conde Maurício de
Nassau para documentar o Novo Mundo durante seu governo no Brasil. Filho do
pintor de vitrais Jan Janszoon Post (15-- - 1614) e irmão do arquiteto e pintor
Pieter Jansz Post (1608 - 1669), Post volta-se cedo para um dos gêneros de
pintura mais importantes da Holanda na época, a pintura de paisagem. Não se sabe
ao certo como se deu sua formação. Talvez tenha freqüentado ateliês de
paisagistas de prestígio como Salomon van Ruysdael (ca.1602 - 1670) ou Pieter
Molijn. De qualquer forma, a relação com a pintura holandesa da primeira metade
do século XVII é evidenciada em toda sua produção artística.
Ao aportar na costa brasileira
como pintor oficial responsável por retratar em desenhos e telas a paisagem, os
feitos militares, a arquitetura do Brasil holandês, Post era somente uma jovem
promessa de talento. Indicado por seu irmão a Nassau, é no contato com a
realidade brasileira que desenvolve uma obra original. Mesmo após sua volta à
Europa não deixa de pintar vistas tropicais, especializando-se em temas
brasileiros. Acredita-se que ele tenha pintado 18 quadros em sua permanência de
quase oito anos no país, mas apenas sete deles podem ser vistos hoje. Em telas
como Vista da Ilha de Itamaracá, 1637, Vista dos Arredores de Porto Calvo, 1639
ou Forte Hendrik, 1640, percebe-se nitidamente algumas características que marcam
a produção de Post: linhas baixas do horizonte com céus altos em planos abertos
para uma vasta área em contraposição à vegetação ou motivos em primeiro plano
em desenhos simplificados, mas meticulosos. Nota-se nessas telas um certo
colorido homogêneo de tons rebaixados mais próximo à pintura holandesa do que à
cor da paisagem local. Tais composições em perspectiva baixa eram comuns a um
tipo de pintura panorâmica desenvolvida na época pelos holandeses. A elas, Post
acrescenta a paisagem do Novo Mundo. Dessa junção surgem pinturas informativas
e serenas, contidas diante da exuberância tropical. Nesse sentido, Post é
"o primeiro artista em terra americana a ter dado uma visão fiel e ao
mesmo tempo poética da região, evitando fantasias e inverossimilhanças",
como observa o historiador José Roberto Teixeira Leite.
De volta à Europa, seus desenhos
servem como base para as pranchas publicadas no volume Rerum per Octennium in
Brasilia de Gaspar Barléu (1584 - 1648). Desliga-se do conde Maurício de
Nassau, mas continua pintando paisagens tropicais, para as quais encontra
mercado. Essa produção realizada distante do motivo, com base em estudos
realizados na América, toma caminhos diversos. Até cerca de 1659 o artista
segue em suas construções de paisagens topográficas de precisão documental.
Contudo, é comum encontrar nas cenas feitas na Europa certa "quebra"
da serenidade da paisagem mediante a colocação de animais ou cenas selvagens
como lagartos, serpentes, tatus, cobras devorando coelhos, por exemplo, no
primeiro plano do quadro. Nesse momento também a luz difusa de seus trabalhos
brasileiros é substituída pelo contraste de cores mais fortes.
De 1660 a 1669, fase de
maturidade de Post, nota-se um crescente domínio da técnica e dos temas
brasileiros, no entanto isso se dá em detrimento da espontaneidade. Não há mais
a preocupação documental. O artista passa a compor com base no rearranjo de
elementos vegetais, animais, topográficos e arquitetônicos, demonstrando um
perfeito manuseio de seu vocabulário pictórico. Trata-se de paisagens ideais,
muitas vezes ricas de detalhes pitorescos. Nesse período encontra-se em plena
potência de sua qualidade de miniaturista. A fatura torna-se mais empastada e o
fundo é estruturado em tons verdes e azuis (na tradição da pintura flamenga).
Certa luminosidade diáfana toma conta dos últimos trabalhos. Entretanto, nesta
fase de auge comercial não arrisca em novas composições, voltando sempre aos
mesmos temas (exemplo: vistas de Olinda, engenhos, paisagens com casas e
personagens esparsos). Nos últimos anos de existência, Frans Post vive de forma
obscura, entregue à bebida e sem capacidade de criação. Talvez a dimensão de
seu êxito artístico como o mais importante pintor da paisagem brasileira no
século XVII possa ser avaliada pela homenagem do amigo Frans Hals (ca.1581 -
1666), que em meados de 1655 realiza seu retrato.
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