As flores são de um encanto tão grande quanto suas cores infinitamente variadas, por sua graça e leveza de suas formas.
Não existe uma única pessoa que não se encante em olhá-las e deseje aspirar seu perfume. É muito natural que os artistas se sintam tentados em pintá-las, tendo para isto duas razões: primeiramente aquela que acabo de citar, em seguida o prazer irresistível dos pintores em utilizar suas cores intensas.
As flores possuem ainda uma grande poesia fornecendo ao observador sensível uma fonte inesgotável de temas dos mais variados. Com efeito, quantas lembranças evoca uma minúscula flor! E qual será a pessoa – homem ou mulher – que não guarde na lembrança o presente de uma flor recebida?
Que mundo de reflexões poderemos fazer, vendo um ramalhete de flores colocado displicentemente sobre uma cadeira, esquecido ou aí colocado propositadamente? Ou ainda um buquê jogado sobre uma mesa, na volta de uma festa, com suas flores agora murchas, amassadas e dispersas pela mão feminina que o mutilou!
E o ramalhete que feneceu lentamente no jarro, apesar dos cuidados dos quais era objeto. Eis aí um vasto campo de reflexões para um belo quadro a ser pintado. Que encanto e que doçura de tons, quantos sonhos podem nos inspirar estas pobres flores pendentes, desoladas , amassadas e mortas!
Os pintores de modo geral, sempre se utilizaram das flores como tema para suas obras pictóricas. Os mestres da escola flamenga foram excelentes neste gênero. Todos eles tiraram efeitos soberbos e encontraram uma oportunidade para mostrar sua habilidade.
Eis aqui alguns conselhos que acredito serem úteis aos iniciantes que tencionam utilizar as flores para motivo das suas telas: desenhem as flores de maneira singela e suave, mas com detalhes, uma de cada vez. Mas estudem bem, pormenorizadamente e verifiquem como as folhas e as flores estão colocadas nas hastes que as sustentam. Isto é primordial; é tão indispensável quanto o estudo anatômico dos músculos, quando pintamos a figura humana.
Quando se olha uma flor, o que impressiona, primeiramente, é a intensidade do tom; depois a graça de sua forma. Quando se experimenta pintar uma flor, eis o que acontece geralmente: Ataca-se geralmente o tom, o que é fácil de encontrar; isto é apenas aparência, fácil de executar. Entretanto se o pintor é exigente, desejando levar mais além a execução preocupar-se-á em encontrar a forma ideal e perfeita, objetivamente em suas minúcias. Aí então está tudo perdido: o frescor desaparece, perdem-se os “valores”, a flor torna-se pesada, esteticamente grosseira, parecendo flor de plástico.
Para evitar este risco, torna-se preciso conhecer “ a fundo” o desenho e a construção de cada flor. Não se pode desenhar um quadro de flores como se desenha uma paisagem, logicamente.
A flor não posa durante muito tempo, porque se mexe e muda sua forma ao murchar, deslocando rapidamente as linhas da composição. Portanto é necessário pintá-las vivamente, o mais rápido que se possa, após um breve desenho.
O esboço na tela deve ser leve e vago nos seus contornos.
É preciso – na execução definitiva – que as camadas inferiores estejam bem secas, pois de outro modo se diluíram com o pincel e impediriam encontrar o tom, empastando desastrosamente as camadas em superposição.
Uma das dificuldades encontradas pelo principiante ao pintar flores pela primeira vez, é a composição, isto é, o arranjo estético. Aqui , como na natureza-morta, há certo problema para encontrar-se o equilíbrio do conjunto e a colocação dos tons de maneira harmoniosa. Para conseguir isto mais facilmente, é indispensável conhecermos a teoria elementar das cores com suas tonalidades complementares, cujas teorias fundamentais são as seguintes: o verde é o complemento do vermelho; o azul é o complemento do laranja; o violeta é o complemento do amarelo. Se flores azuis, forem colocadas ao lado de flores alaranjadas obteremos um efeito agradável; do mesmo modo acontece com todas as tonalidades que mencionei.
Se ao contrário, forem colocadas flores amarelas ao lado de flores vermelhas, obteremos tonalidades discordantes e um efeito desagradável que não poderá ser salvo, ´pela mais perfeita execução.
O princípio de tons complementares é também indispensável e deve ser observado detidamente, pois proporciona ao pintor um meio certo para aumentar a intensidade das cores de outros objetos circundantes os quais parecem apagados , quando colocados ao lado das flores. Geralmente de cores mais vivas.
Eis um meio de verificar o que digo: pinte uma flor amarela sobre um fundo azul-acinzentado, e uma outra flor igualmente amarela, sobre um fundo de outra cor; pode-se notar à diferença entre eles, e, ainda mais, como azul –acinzentado - complementar do amarelo – ativará sua intensidade e duplicará o seu brilho.
Todo o complementar não é senão o acompanhante do tom e conseqüentemente não será tão brilhante quanto ele, pois se danificariam mutuamente. Uma dificuldade para o principiante, é a de colocar as flores escuras na claridade e as claras na penumbra. Com efeito, todos sabem que as rosas brancas, por exemplo, dispostas de modo a que sejam colocadas ao lado por onde entra a luz, ajudarão a moldurar harmonicamente todo o conjunto e torna-lo mais fácil para ser executado.
Se, ao contrário, as flores se encontram na penumbra, apresentarão um efeito demasiadamente luminoso, cujos valores serão dificilmente percebidos. Esta é uma dificuldade que sempre tenta o pintor para resolve-la, quando sabe pintar; entretanto, é preferível evitar esse efeito no princípio do estudo da pintura.
Assinalamos estes inconvenientes, pois sabemos quanto os principiantes necessitam de estímulo, e quanto é necessário acertar no começo, para não desanimar, constatando sua impotência em traduzir as maravilhas que a Natureza explode aos nossos olhos.
O bom-gosto do artista que se encontra realizando sua tela é guiado por sua própria predileção, quando a realização estética é harmônica no seu conjunto. Contudo, cumpre lembrar, as flores não devem ficar amontoadas e amassadas em grande quantidade num vaso relativamente pequeno. Procura-se uma composição lógica, enfatizando-se “pirâmide”, a qual recomendo para felizes composições de arranjos florais ou naturezas-mortas. Além disto, é preciso haver um motivo bem destacado, e outros secundários, relativamente mínimos, para “contrastar”.
Evitar as alturas semelhantes, sendo preferível arranjar as flores de maneira simétrica, para evitar uma composição afetada.
Terminado o desenho básico e estando todas as cores preparadas na paleta, começa-se por fazer o esboço da pintura, colocando os “detalhes” por meio de rápidas pinceladas. Para o vermelho-vivo, dispor da tonalidade mais clara no começo, e não se preocupar com a intensidade criada momentaneamente. Ao terminar, suavizam-se e abrandam-se certos tons muito fortes e chocantes. Esta maneira de agir fornecerá o brilho necessário e a transparência exigida, sobre tudo nos vermelhos, os quais serão suavizados com a laca-rosada, isto após a tela estar completamente seca.
Pinta-se a seguir a folhagem e todo o verde, sempre por meio de “manchas” rápidas, levando-se em conta apenas os “valores”. O vaso, o fundo, a mesa que compõem o “todo” enfim; estando tudo esboçado devidamente, começa-se a executar de uma só vez cada flor, pois o modelo muda de cor e aparência, de modo que, se o trabalho for retomado, será necessário começar tudo de novo.
Ao término da pintura sobre a tela, recomenda-se usar os pincéis de marta; sua flexibilidade fornecerá toques mais leves, o que nos possibilita jogar mais facilmente com os tons, resultando daí mais elegância na execução e um acabamento mais firme e aprimorado nos detalhes.
O traço deverá ser o mais imperceptível possível, sobretudo nas flores luminosas e claras. Eis como se procede: Ao se esboçar uma rosa branca deve-se ter o cuidado de empregar muito pouca cor, para então retomá-la pouco mais tarde com tinta mais espessa.
Desenha-se por meio de um pincel fino, preparando-se um tom bem aguado e muito transparente, aproximando-se o mais possível do tom escuro da mesma flor.
Não se deve empregar demasiada espessura de tinta, sobretudo no desenho executado por meio do pincel, para que a tonalidade não estrague a pintura, deixando uma cor que tornaria a execução seca e dura.
Todos os detalhes de uma flor, ou de uma folha – convém frisar – devem ser executados preferencialmente enquanto as flores “estiverem frescas”; quando se emprega a execução de um ramalhete, por exemplo, é preferível terminar a pintura “de uma só vez”, pois o que for posto depois não combinará devidamente com o resto, tornando-se sempre estranho pelo mau efeito obtido.
Para terminar estes conselhos e esta mini-aula, cumpre lembrar que a escolha do vaso ou antes, a cor do vaso, tem também sua importância estética: os que são de barro, singelamente, ou os vasos metálicos, de latão niquelados, são os mais preferidos para um buquê de cores diversas; já os vasos coloridos, ou com detalhes em relevo, são utilizados de preferência quando se pintam flores de um único tom, como os ramos de uma macieira ou de um pessegueiro, na primavera, levando-se em conta, todavia, a cor do vaso em referencia ao tom complementar das flores. Por exemplo: toma-se um vaso verde para flores brancas, rosadas ou vermelhas.
Recomendo aos que já tiveram conhecimentos suficientes de pintura, após pintar muitas flores no estúdio, pintarem ao ar livre, colocando-se as flores e os vasos respectivos do lado de fora, ou próximo à janela. Aí será encontrada uma outra mina a desvendar e imensos horizontes a reproduzir. Estes estudos ao ar livre mostrarão novos tons e valores, jamais concebidos, que fornecerão a vantagem de orientá-los na pintura da paisagem, habituando-os ao ambiente que os cerca tornando possível suavizar e harmonizar melhor os detalhes que se encontram em um determinado conjunto de uma tela esteticamente perfeita.
Quer saber mais sobre o tema
Envie me um E-mail, agende uma aula experimental
Nenhum comentário:
Postar um comentário