Obras falsas e roubadas agitam os museus e o mercado
Girassóis, de 40 milhões: sob suspeita
Quadro tido como Falsificado, Analisado por peritos |
Os ladrões e falsários estão tirando o sono dos curadores, marchands dos principais museus, casas de leilões e galerias do planeta. Na terça-feira passada, três homens armados invadiram a Galeria Nacional de Arte Moderna, em Roma, levando três quadros de primeira linha: dois retratos pintados pelo holandês Vincent Van Gogh (1853-1890), O Jardineiro e A Arlesiana, e uma paisagem do pintor francês Paul Cézanne (1839-1906), A Cabana de Jordão. Suspeita-se de que o roubo não seja obra de ladrões comuns, mas de terroristas interessados em desmoralizar o primeiro-ministro Romano Prodi. Seja lá quais forem suas intenções, os ladrões deram um prejuízo que pode alcançar a casa dos 100 milhões de dólares. O assalto aconteceu menos de um mês depois do furto de uma tela de Camille Corot, O Caminho de Sèvres, do Museu do Louvre. Como se isso não bastasse para tumultuar o quase sempre modorrento mundo das artes, um simpósio londrino sobre Van Gogh se encarregou de agitar os museus e o mercado. Uma comissão de sete especialistas na obra do pintor colocou publicamente em discussão a autenticidade de cerca de cinqüenta obras de Van Gogh.
A primeira vítima dos especialistas reunidos em Londres é a companhia de seguros japonesa Yasuda, que num escandaloso golpe de marketing pagou 40 milhões de dólares pela tela Girassóis, arrematada num leilão da Christie's de Londres, em 1987. Antes de ir a leilão, a tela pertencia à família Chester Beatty. De acordo com historiadores de arte e peritos, o quadro japonês não passa de uma cópia grosseira de uma tela com o mesmo tema pertencente à National Gallery londrina. No decorrer de seus 37 anos, Van Gogh teria pintado dez vasos de girassóis, dos quais cinco sobrevivem até hoje. Contra os Girassóis da Yasuda pesam vários fatores. Em primeiro lugar, ele não traz a assinatura do mestre. Em segundo, sua área pintada é ligeiramente maior do que o tamanho padrão utilizado por Van Gogh. Em terceiro, o quadro não consta em nenhuma das anotações de trabalho de Van Gogh, um sujeito tão obsessivo que documentava diariamente suas atividades. Por fim, o excesso de brilho e a espessura das pinceladas são rudimentares.
Acredita-se que os Girassóis de 40 milhões de dólares foram pintados, na verdade, pelo francês Claude-Emile Schuffenecker. Artista fracassado, mas restaurador de renome, ele teria falsificado o quadro em 1901, quando restaurava os Girassóis da National Gallery. Outra hipótese é que o doutor Gachet, médico que cuidou de Van Gogh e que gostava de manejar pincéis nas horas vagas, tenha feito a pintura. A Christie's continua insistindo na autenticidade da obra, enquanto a Yasuda ameaça abrir um processo para ser indenizada pelo prejuízo. A revelação da Comissão Van Gogh, dirigida pelo museu que leva o nome do pintor, em Amsterdã, levanta questões perturbadoras. Além dessa, quantas outras obras de arte negociadas por milhões de dólares podem não passar de falsificações? E quantas serão descobertas? Já há uma lista de pinturas creditadas ao gênio holandês que devem ser desatribuídas. Entre elas, A Arlesiana do Metropolitan Museum, de Nova York, e Dr. Gachet, do Museu D'Orsay, de Paris.
Quadro Autêntico |
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