sábado, 24 de novembro de 2012

Mês da Consciência Negra, Museu Afro Brasil, Pintores Negros / Luciano Cortopassi


Em uma das pontas da marquise do Parque Ibirapuera, um prédio de linhas arrojadas e inconfundíveis, traçadas por Oscar Niemeyer, encontra-se uma rica narrativa da história do negro no Brasil e no mundo.
Lá, o negro aparece como sujeito e objeto, como vê e como é visto, num movimento que possibilita a reflexão sobre a negritude de cada um.  É o Museu Afro Brasil, com 11 mil m² e cerca de 4.500 obras expostas.
O artista plástico Emanoel Araujo é o diretor, curador e proprietário de boa parte do acervo. Ele já organizou exposições com a temática afro no mundo inteiro. Uma de suas maiores intenções era ter, em São Paulo, um espaço artístico permanente e aberto a todos para discutir a afrobrasilidade. “Os negros não têm hábito de freqüentar museus porque nós vivemos numa sociedade racista, sexista e com outros tipos de preconceitos, que afastam as pessoas da arte, da cultura. E esse nosso projeto é uma forma de aproximar o museu do seu público”, afirma o curador.
O Museu Afro Brasil existe desde 2004, quando foi criado, por decreto, pela ex-prefeita Marta Suplicy. Como não houve a elaboração de um Projeto de Lei na Câmara Municipal, aconteceu um desentendimento: o museu existia, embora não estivesse regulamentado. Isso quer dizer, por exemplo, que não havia orçamento destinado ao museu pela prefeitura.  Por isso, tornou-se uma OSCIP (Organização da Sociedade Civil de Interesse Público), em agosto de 2005, e deixou de ser administrado pela Secretaria Municipal de Cultura. Segundo Ana Lúcia Lopes, coordenadora do núcleo de educação do museu, o maior desafio da gestão é conseguir verba.  “Fizemos um projeto para trazer a população para cá, com um ônibus que partia de diversos pontos de cultura da cidade. Trouxemos cerca de 8 mil pessoas, mas não conseguimos continuar por falta de dinheiro”, explica ela.

Metáforas

As exposições temporárias do Museu Afro Brasil abrem espaço para artistas do mundo inteiro com temas que, por vezes, não se relacionam diretamente com a negritude, mas, de alguma forma, dialogam com o museu. Já o acervo permanente divide-se em seis núcleos: “África”, “Trabalho e escravidão”, “O Sagrado e o Profano”, “Religiosidade Afro-Brasileira”, “História e memória” e “Arte”. A disposição do acervo dentro do museu foi concebida de forma proposital, construindo uma narrativa histórica. “Não existe uma seqüência lógica, mas uma simultaneidade de relações. Todos os núcleos têm interfaces entre eles”, explica Ana Lúcia.
Os educadores que coordenam as visitas ao museu têm que tentar reverter, em 75 minutos – tempo de duração das visitas guiadas –, preconceitos culturais arraigados há anos pela sociedade. “Muitas escolas se recusam a vir aqui ou pedem para pular a parte de religiosidade”, revela Juliana Ribeiro, historiadora e educadora do museu, referindo-se às reações que presencia quando alguns estudantes e professores passam pelas vestimentas e adornos usados no candomblé, que fazem parte do acervo. “Temos que lidar com o preconceito, mesmo em crianças muito pequenas e até em idosos. O papel do educador é aproveitar para desconstruir essas coisas que estão na cabeça das pessoas.”
De acordo com ela, é muito difícil os visitantes entenderem o fio condutor do Afro Brasil sem a presença do educador. “Ao contrário de muitos outros museus, ele não é de fácil compreensão. Muitas pessoas saem daqui dizendo que acharam muito confuso, que não entenderam a proposta”, conta.  A historiadora destaca a riqueza de metáforas na concepção artística do curador para dispor as obras como causadora da dificuldade de compreensão. Mas, mesmo sem mediação, ela afirma que dificilmente alguém sai de lá sem se sensibilizar, de alguma forma, com as obras e o resgate histórico ali presentes.

Biblioteca afro-brasileira

O museu abriga a biblioteca Carolina Maria de Jesus, com 6 mil títulos, entre livros, teses, revistas e artigos, em sua maioria, voltados para a temática do negro. “Tem arte africana e brasileira, cultura brasileira, muitas coisas sobre o tráfico de pessoas, a escravidão, a abolição e religiosidade”, define a bibliotecária Romilda Silva. O acervo não pode ser emprestado, mas a consulta é livre durante o horário de funcionamento do museu.
























Obra de Artur Timótheo da Costa

Obra de Antônio Rafael Pinto Bandeira

Obra de Benedito José de Andrade
Auto-Retrato de Artur Timótheo da Costa


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