sexta-feira, 5 de outubro de 2012

História da Pinacoteca de São Paulo/Luciano Cortopassi

Histórico

A Pinacoteca é o mais antigo museu de artes plásticas do Estado de São Paulo, inaugurada em 1905 e transformada em museu estadual em 1911, em um momento em que inexistem salões públicos para a exibição de obras de arte na cidade. Funcionando na avenida Tiradentes, no Jardim da Luz, centro de São Paulo, o imponente edifício - projetado pelo escritório do engenheiro Ramos de Azevedo (1851-1928) entre 1896 e 1900 - passa por diversas reformas. A última delas é realizada na década de 1990, durante a gestão de Emanoel Araújo (1940) como diretor da instituição, a partir de um projeto de recuperação do prédio assinado pelo arquiteto Paulo Mendes da Rocha (1928). A reforma integra, de modo mais evidente, o museu ao Parque da Luz, também recuperado e que passa a funcionar como um museu de esculturas ao ar livre. Com um acervo definido como "uma coleção de arte brasileira" - um de seus traços distintivos -, a Pinacoteca conta hoje com cerca de 5.000 obras, predominantemente de artistas nacionais do século XIX.
A história da Pinacoteca do Estado de São Paulo se confunde com a do Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo (Laosp), criado em 1873 por Leôncio de Carvalho como Sociedade Propagadora da Instrução Popular, associação educacional privada fundada com apoio da maçonaria, destinada às classes trabalhadoras do campo e da cidade. Após uma reforma curricular e sucessivos apoios estatais, a Sociedade passa a se chamar Liceu de Artes e Ofícios em 1882, "para ministrar gratuitamente ao povo os conhecimentos necessários às artes e ofícios, ao comércio, à lavoura, às indústrias". Mas é em 1895, quando dirigida pelo engenheiro Francisco de Paula Ramos de Azevedo, que a escola conhece uma reforma mais ampla, com a inclusão das "artes e ofícios", de acordo com o plano do engenheiro de criar as bases de uma "futura Escola de Belas Artes de São Paulo". Nessa fase também se inicia a construção do novo edifício, parcialmente concluído em 1900, quando começam a funcionar alguns cursos de instrução primária e artística. O prédio, projetado por Ramos de Azevedo e Domiciano Rossi, seu principal colaborador, tem estilo monumental em forte consonância com os princípios do neo-renascentismo italiano.
A criação de um museu no interior do Liceu altera as suas feições iniciais. Concebida a princípio para ser uma galeria, a Pinacoteca é fundada pelo poeta e mecenas Freitas Valle, pelo político Sampaio Vianna, pelo engenheiro Adolpho Pinto e por Ramos de Azevedo, que dirige o Liceu e a Pinacoteca de 1905 a 1921. Em seus primeiros anos, são organizadas a 1ª e a 2ª Exposições Brasileiras de Belas Artes (1911 e 1912), a Exposição de Arte Espanhola (1911) e a Exposição de Arte Francesa (1913), além de algumas mostras individuais (por exemplo, as de Aurélio de Figueiredo (1854-1916) e de Pedro Alexandrino (1856-1942), em 1912). O acervo inicial do museu conta com 59 obras de artistas consagrados do Rio e de São Paulo - entre os quais Antônio Parreiras (1860-1937), Benedito Calixto (1853-1927), Baptista da Costa (1865-1926), Oscar Pereira da Silva (1867 - 1939) e Almeida Júnior (1850-1899) - parte delas pertencentes ao acervo do Museu Paulista da Universidade de São Paulo (MP/USP) e transferidas à Pinacoteca. Até os anos 1930, esse acervo é ampliado em função de doações privadas e aquisições do Estado. Obras dos artistas pensionistas no exterior - por exemplo, Victor Brecheret (1894-1955), Anita Malfatti (1889-1964), Wasth Rodrigues (1891 - 1975), entre outros -, passam a integrar a coleção do museu, de acordo com as regras do Pensionato Artístico de São Paulo. Com a criação do Salão Paulista de Belas Artes, em 1934, por sua vez, as obras contempladas com o "prêmio aquisição" passam à Pinacoteca. Quando das exposições de arte espanhola e francesa, as primeiras obras internacionais se integram ao acervo.
O incêndio de 1930, bem como as revoltas políticas de 1930 - a Revolução de 1930 e a Revolução Constitucionalista de 1932 obrigam o museu a fazer as vezes de quartel improvisado - deixam a Pinacoteca fechada por dois anos. Sua reabertura se dá na antiga sede da Imprensa Oficial do Estado, onde permanece até 1947, quando retorna ao edifício do Liceu. Entre os anos de 1932 e 1935, a Pinacoteca funciona sob o controle da Escola de Belas Artes, que passa a se responsabilizar pelo museu. A vinculação com a Escola de Belas Artes e as sucessivas gestões de Paulo Vergueiro Leão (de 1932 a 1944) e a de Mugnaini (1895-1975) (de 1944 a 1965) mantêm a Pinacoteca relativamente distante dos movimentos de renovação artística do início do século XX e dos demais museus de artes criados na década de 1940 (Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (Masp) e Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM/SP)). Em todo esse período ela segue sua vocação inicial de formação de um acervo com obras acadêmicas. É nos anos 1970, nas gestões de Delmiro Gonçalves, Clóvis Graciano (1907-1988) e Walter Wey, que tem início uma série de reformas do prédio e é quando mudam também os critérios de escolha das obras, definidos, a partir de 1970, pelo Conselho de Orientação Artística da Pinacoteca. O espaço do edifício da Praça da Luz é compartilhado pela Pinacoteca e pela Escola de Belas Artes até os anos 1980. Na década de 1960, o prédio abriga também a Escola de Arte Dramática. É somente em 1982 - quando o prédio é tombado pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico, Arqueológico e Turístico do Estado de São Paulo (Condephaat) -, que o museu passa a contar com um espaço exclusivo.

A Pinacoteca possui um acervo variado de arte brasileira de todos os tempos, mas que tem sua importância reconhecida em função da significativa coleção de artistas nacionais do século XIX. Ao longo das salas do segundo pavimento é possível entrar em contato com a produção de Almeida Jr., suas paisagens, retratos, sobretudo, os célebres Caipira Picando Fumo (1893), Saudades (1899) e Leitura (1892). As naturezas-mortas de Pedro Alexandrino ocupam uma sala: Cozinha na Roça (1894), Peru Depenado (ca.1903), Aspargos (s.d.). Além disso, paisagens de Parreira e Benedito Calixto, como a Baía de São Vicente; pinturas históricas e cenas de gênero de Oscar Pereira da Silva - Hora da Música, 1901 e Infância de Giotto, 1895 -, retratos de Bertha Worms (1868-1937) e Henrique Bernardelli (1858-1936), entre muitos outros. A despeito de sua ênfase na arte acadêmica, o acervo conta com diversas obras de artistas modernistas, como Victor Brecheret, Lasar Segall (1891-1957), Anita Mafaltti e Di Cavalcanti (1897-1976). Com o tempo incorpora também obras abstracionistas de distintas extrações - Waldemar Cordeiro (1925-1973), Flexor (1907-1971), Arcangelo Ianelli (1922-2009) -, além de trabalhos contemporâneos, como os de Nuno Ramos (1960), Paulo Monteiro (1961) e Paulo Pasta (1959).










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